Coluna da Anita

Dia 9 Janeiro

Para fazer parte deste blog pensei num formato engraçado e que constitui um desafio de escrita criativa para mim e um tanto diferente, original, para quem nos lê: A cada mês publicarei um pequeno micro-conto inédito e uma mani alusiva à narrativa. Hoje, sendo a minha primeira participação, as cores não poderiam ser outras que as do blog e minhas favoritinhas verde e azul, e apesar de não serem as tonalidades exactas do layout, eram os novos na fila com vontade de saltarem para serem experimentados - Quadrado e Rectângulo da nova colecção Forma em Cor da Colorama. Brincando com as formas nada geométricas do voo alado da borboleta azul desse blog lindo, escolho este tema para inventaricar o micro-conto que hoje vos escrevo.
por Ana Martins © 

Allie, a borboleta irreverente, queria ter brilhantes pintinhas em azul e verde, queria crescer com brilho holográfico quando adejasse sob o sol – já na sua crisálida materna era o seu desejo. Mas quis a mãe natureza e seus genes que fosse apenas azul. Allie mirava sua irmã Zoe, a borboleta acomodada, esvoaçando fosca, trajada de verde lima sobre o rectângulo verde intenso do relvado. Sabia-se mais vistosa, mas nada era suficiente no reino vegetativo do campo a que não dava a menor bola, queria porque queria um manto holográfico que a cobrisse de brilho e a cada movimento captasse todo o espectro resplandecente do arco-íris. Almejava que o clamor do aplauso fosse para si, não para um qualquer time que se apresentasse no relvado. Não compreendia como Zoe se sentia feliz adejando sem parar quase desaparecendo sobre a vegetação, sem destaque, colorido ou luminosidade. Contudo, amava-a.
Um dia aventurou-se e voou para fora do limite quadrado que sua pequena vida tinha, e entrou no portal de uma tribo discobóllica.
Depois de esvoaçaricar dia e noite embriagada sob tanta holografaricagem, uma noite mais taciturna voltou no rectângulo verde e procurou sua irmã. Incitou Zoe para a acompanhar, contando-lhe de suas aventuras, sensações e emoções. E sim, confessando-lhe por fim que tanto brilho sem a doce companhia de sua amada Zoe, jamais seria uma comoção plena, que desejara muito que o mesmo véu de felicidade holográfica as abraçasse, mas que principalmente voassem juntas para a eternidade. Zoe sorriu e revelou não sentir o anelo de exposição vital como sua irmã, mas como toda a saudade que sentira de Allie, isso sim, a corroía. Abraçaram-se enternecidas e juntas partiram adejaricando rumo a um novo portal.
Dia 6 Fevereiro

Para o micro-conto deste mês, proponho-me brincar com o som das palavras quase-poema, quase-história infantil: e se os nossos dedos tivessem vida própria? funcionassem por cores? como seriam os seus? achei este um bom tom para inventaricar um micro-conto esmaltístico!! Espero que gostem desta aventura meio-doida com um irreverente toque de criatividade na ponta dos dedos :-)
por Ana Martins ©

Não pareciam filhas da mesma mão, cada uma com sua personalidade, com sua atitude, com sua cor. A caguenta média-altaneira, sempre de nariz no ar, era snob, era arrogante, a mais velha, irritante de petulante. Contrastava com a sua doce irmã aneleira-casamenteira, a que ruborizaricava romanticamente a cada desafecto caguilento da média-altaneira.
Sem brincadeira, mas sempre salva pela pispineta e pigmentada indicadoreira, bafejando na linda corneta azulejadada de brilhante defendedeira. Ousava gritar sem levantar o tom de sua razão.
Tinha em contraposição o nu azedume da polegarezeta, desvalida em cor e presença, sombra rastejante oponível à sincera frontalidade da indicadoreira, era incessantemente avinagrada, na opinião e no trato. Já a gótica caçula mindindinhozinha rejubilava em plena alegria enquanto aplainava as constantes guerrilhas das irmãs. Saltitava harmoniosamente entre as discrepantes pessoalidades, dos atinos aos fornicoques ousados, e bastava a todas uma pequena passagem de poção mágica da maninha gótica com alma de grilo-falante para logo reaverem a cadência ritmada da estabilidade manuseável a cada novo chá das cinco.

Dia 13 Março







Para o micro-conto deste mês venho falar de como estou encantada pela cor que sempre evitei... o vermelhinho, é verdade, as meninas até brincam que estou doente, mas gente!!, eu estou é apaixonada!!! 

por Ana Martins © 

Ele viu-a primeiro, reconheceu-a pela cor, adivinhou-lhe a essência e atrevido avançou. Ela, papoila distraída na cor inusitada, nem se deu conta de como a rodeou, mas quando reparou, gostou. Ensaiaram uma dança silenciosa sem fim à vista, volteando enroscados numa harmoniosa clave de sol. Ela nunca havia experimentado conjugar a sua luxuriante esmaltação com o tom de um baton vibrante. Ele era ela e ela igual a ele, unidos na tonalidade sensual de um vermelho vivo com sabor doce na vontade de simplesmente continuar. 


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